Página 7 - Sulgas - n. 3 - jul.

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Sulgás Natural
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Irrequieto e criativo, uma espécie de alquimista mu-
sical, Hique começou a tocar guitarra e bateria aos 15
anos. Gaúcho de Porto Alegre, filho de um ex-zagueiro
do Grêmio, estudou filosofia, foi padeiro numa loja de
produtos naturais, trabalhou em metalúrgica, deu aulas
de violão e aos 20 anos começou a estudar violino. Em
1984, montou o Tangos & Tragédias com Nico, forman-
do a dupla de sbornianos Kraunus Sang e Maestro Ples-
tkaya. A partir daí, a ilha flutuante da Sbornia, surgida
dos delírios criativos de ambos, apareceu para o mundo.
Conheça um pouco mais dessa consagrada figura da
arte gaúcha em entrevista exclusiva para a Sulgás Natural.
Sulgás Natural:
Tu és inquieto e
criativo, mas é sempre assim, produ-
zindo e criando intensamente? Como
se dá a criação das tuas músicas?
Hique Gomez:
Música é fácil, flui...
Um projeto inteiro é mais difícil.
Pensar um conceito de um espetá-
culo hoje me dá mais prazer do que
só fazer a música. Criar personagens,
imaginar cenários e conteúdos e
contextos me mobiliza muito mais.
A música sempre acaba fluindo de
acordo com isso. Gosto de criar mú-
sica para filmes também. A música é
uma coisa sempre presente, há uma
pista na minha cabeça rolando músi-
ca para cada momento. Se eu prestar
atenção, sempre posso fazer uma tri-
lha, pra qualquer momento, por mais
despretensioso que seja.
Sulgás Natural:
Entrar e sair dos
personagens é uma diversão ou dá
muito trabalho?
Hique Gomez:
Dá trabalho, sim. É
um trabalho que gosto de fazer. No
caso do Tangos & Tragédias, havia
muita diversão envolvida, mas tam-
bém dava trabalho, é claro. Outros
personagens cansam mais. Macuco
Serra, por exemplo. O Anão tocador
de serrote exige uma produção, cola
de barba, figurino pesado e como
fico de joelhos na botinha ortopé-
dica, cansa mais um pouco. Laszlo, o
homem-banda, também cansa... São
três instrumentos tocados ao mesmo
tempo, sendo um deles por man-
gueiras de sopro. Isso cansa. Mas dá
muito prazer!
Sulgás Natural:
O espetáculo Tãn
Tãngo recebeu apoio da Sulgás atra-
vés da Lei de Incentivo à Cultura.
Como aconteceu essa relação?
Hique Gomez:
A Sulgás estava
dentro do projeto de 30 anos do
Tangos & Tragédias. Iríamos reali-
zar alguns shows. Quando o Nico
nos deixou e os projetos para este
ano foram todos cancelados, nossos
produto­res ofereceram o Tãn Tãngo
como uma alternativa.
Eu po­deria desistir deste projeto
se não houvesse um patrocinador.
Talvez o projeto não tivesse fôlego
para seguir, porque os custos são al-
tos e nem sempre a bilheteria cobre
toda a operação. Ao contrário disso,
temos agora uma grande oportuni­
dade de alavancar o projeto, torná­-
Ronei Brognoli
Datas da turnê Tãn Tãngo
6/9 –Gramado
Rua Coberta (19h30min - entrada franca)
5/10 –Caxias do Sul
Teatro da UCS (20h)
26/10 –Porto Alegre
Theatro São Pedro (18h)
22/11 –Novo Hamburgo
Teatro Feevale (21h)
-lo mais conhecido. Durante este
circuito vamos gravar o DVD, e isso
já está dando uma grande vitalida­de
ao projeto.
Sulgás Natural:
Falando em Tan-
gos & Tragédias, como é seguir a
vida sem o teu grande parceiro Nico
Nicolaiewsky, que faleceu em feve-
reiro passado?
Hique Gomez:
Estamos ainda no
período de luto. Faz poucos meses.
Nós sempre tivemos os nossos pro-
jetos paralelos, desde o início. Mas
havia um plano para os 30 anos do
Tangos & Tragédias que teria sido
lindo.
Estamos tristes com o fim do es-
petáculo e com a falta que o Nico
tem feito. Mas temos que processar
esta realidade. Poderia ter aconte-
cido comigo ou com qualquer outra
pessoa.Todos estamos sujeitos a isso,
e quando chegar a hora temos que
abraçar a realidade. Temos que viver
este momento triste com a maior be-
leza possível! E com a convicção de
que tudo o que foi feito deixa um re-
síduo imensamente positivo na vida
de todas as pessoas que tiveram
esta experiência de compartilhar do
nosso trabalho. Toda a alegria que
foi gerada pode permanecer na me-
mória e na obra que deixamos.